Caseiro confessa participação na morte do coronel Paulo Malhães
O ex-coronel foi encontrado morto dentro de sua casa, num sítio na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro
Policiais da Divisão de Homicídios da
Baixada Fluminense (DHBF) prenderam, nesta terça-feira (29), Rogério
Pires, o caseiro do sítio do coronel reformado do Exército Paulo
Malhães. Rogério foi preso logo após prestar depoimento na especializada
e confessar participação no crime, ocorrido na última quinta-feira no sítio do coronel, em Nova Iguaçu.
Contra ele foi cumprido mandado de
prisão temporária, expedido pelo plantão judiciário, pelo crime de
latrocínio (roubo seguido de morte). A polícia também já identificou
outros dois participantes do crime. Ele estão foragidos.
Entre as primeiras pessoas que souberam
da morte do coronel reformado do Exército Paulo Malhães na sexta-feira
está o também coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra,
ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo (1970-1974). O DIA descobriu no
Twitter do site de Ustra “A Verdade Sufocada” uma postagem sobre o
assassinato de Malhães às 13h08 — 31 minutos antes da primeira notícia
em página de empresa jornalística, às 13h39. O site “A Verdade Sufocada”
tem o mesmo nome do livro escrito por Ustra, com sua versão sobre a
repressão.
No
site de Ustra, a informação sobre a morte do coronel Malhães foi
divulgada cerca de meia hora antes da primeira notícia em página de
empresa jornalística
A postagem no Twitter traz um link para a
matéria no site do militar. A notícia diz que Malhães foi morto com
quatro tiros. Há também uma referência ao assassinato do coronel Júlio
Molinas Dias em 2012, e que ele guardava em casa documentos do caso
Rubens Paiva.
A polícia informou na sexta-feira que o
corpo de Malhães tinha sinais de asfixia. A viúva, Cristina, contou que
os bandidos cortaram o telefone da casa. O coronel Ustra mora em
Brasília.
O coordenador da Comissão Nacional da
Verdade, Pedro Dallari, considerou a informação importante para as
investigações. “Esse levantamento vai ser importante. Acredito que vão
ter que ouvir pessoas em função disso. É uma informação relevante”,
afirmou Dallari, que ressaltou que todas as hipóteses devem ser
investigadas.
O assessor da Comissão da Verdade de
São Paulo Ivan Seixas disse que o site é uma referência entre os
militares. “É a mais importante referência dos torturadores. É altamente
suspeito ter essa notícia antes mesmo da própria imprensa. Isso chama a
atenção e acho que devíamos exigir que a PF entre no caso”, observou
Seixas.
Durante entrevista ao DIA em março deste
ano, Malhães contou que ele e Ustra tinham trabalhado juntos em algumas
operações. Ustra também prestou depoimento à Comissão da Verdade, em
maio de 2013. Na ocasião, negou sua participação em torturas e
assassinatos.
Procurado para falar sobre o caso do coronel Paulo Malhães, Brilhante Ustra não retornou até o fechamento da edição.
MPF apreende documentos e computadores
O Ministério Público Federal no Rio de
Janeiro e a Polícia Federal cumpriram ontem mandado de busca e apreensão
na casa do coronel reformado Paulo Malhães, em Marapicu, em Nova
Iguaçu.
Durante as buscas foram apreendidas três
computadores, mídias digitais, agendas e documentos do período da
ditadura, inclusive relatórios de missões das quais Malhães participou.
O mandado, feito no sábado por
procuradores da República do grupo de trabalho Justiça de Transição, foi
concedido pelo juiz federal Anderson Santos da Silva. Segundo o MPF, o
objetivo era apreender documentos e possíveis provas que possam
contribuir para a elucidação de crimes cometidos por servidores públicos
durante a ditadura militar.
Paulo Malhães foi agente do Centro de
Informações do Exército na década de 1970. Os procuradores já
investigavam o militar devido aos relatos em que confessou ter torturado
e assassinado presos políticos.
Em dezembro de 2013 e março de 2014, o
MPF tentou, inclusive, intimá-lo a depôr, mas o militar recusou-se a
receber a intimação. A recusa foi antes de ele ser ouvido pela Comissão
Nacional da Verdade (CNV).
Em março, antes do depoimento à CNV,
Malhães admitiu ao DIA que participara de torturas e mortes durante a
ditadura e que integrara uma missão em 1973 para desenterrar e ocultar a
ossada do ex-deputado federal Rubens Paiva, desaparecido dois anos
antes.
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Fonte: O Dia
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