‘Contei 180 furos no meu filho’, diz pai de preso decapitado no MA
O reencontro entre pai e filho só
aconteceu em dezembro. Dyego jazia na mesa do IML (Instituto Médico
Legal) de São Luís, capital do Maranhão. A cabeça estava separada do
corpo.
Domingos ainda manteve sangue frio para
observar melhor o cadáver. “Contei 180 furos no meu filho, um por um,
isso só na parte da frente, porque ele estava de barriga para cima”,
afirmou.
Dyego Michael Mendes Coelho, 21 anos, e
outros dois presos – Manoel dos Santos Ribeiro, 46 anos, e Irismar
Pereira, 34 anos – foram decapitados em rebelião ocorrida no dia 17 de
dezembro do ano passado, no CDP (Centro de Detenção Provisória) de
Pedrinhas –maior complexo prisional do MA. Um quarto preso morreu a
facadas no motim.
Três das vítimas formavam uma mesma
família. Ao lado do corpo de Dyego estava o de Manoel, pai de sua
namorada. O esfaqueado era Gilson Gleyton Silva, filho de Manoel.
Em vídeo revelado pela Folha, detentos registraram a celebração das mortes e zombaram com os cadáveres.
Traição
Domingos concordou em falar sobre o
tema, mas longe de sua casa. Ele vestia uma camisa branca com a foto do
filho e a frase: “No meu coração onde quer que eu vá”.
Partiu dele a ideia de confeccioná-la
para a missa de sétimo dia do rapaz. Mas Domingos não que só mostrar a
foto de Dyego. Chama a atenção para a mensagem atrás da camiseta: “Nem
Jesus escapou da traição”.
“Lá os presos se faziam todos de amigos dele. Mas cortaram a cabeça do meu filho”.
Vídeo da selvageria
Domingos toma fôlego para contar por que
quis assistir ao vídeo de presos zombando com o cadáver de seu filho,
preso por porte ilegal de munição.
“Eu vi o vídeo porque queria saber até
que ponto pode ir o ser humano”. E descreve as cenas dos presos com a
cabeça do filho, celebrando a decapitação.
A dor que diz não poder descrever é a de
pensar o quanto seu filho sofreu, da tortura e das facadas até o
momento da decapitação. “Eu não desejo para nenhum bicho o que meu filho
passou. Nem para os próprios presos que o mataram”.
A lembrança de Dyego na memória do pai é
a de um garoto cercado de amigos da rua, desde a infância. Apesar de
aplicado na escola, era um menino levado, admite o pai.
Chegou a concluir o ensino médio e há
dois anos recuperava-se de um acidente de carro. Dizia ao pai que
pretendia retomar os estudos. ”Um dia me disse que queria ser
engenheiro”. Na dúvida, o pai já havia se apressado em passar a barraca
de frutas para o nome de Dyego.
O rapaz deixa dois filhos, o mais velho
de dois anos. A caçula ele não conheceu: a menina nasceu em setembro,
quando o pai estava no CDP.
Fonte: Folha
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